sexta-feira, 11 de maio de 2012

Process Of Guilt - FÆMIN (2012)


Poucas começam a ser as palavras para podermos falar, sem cairmos em lugares-comuns e redundâncias, do trabalho que os Process Of Guilt têm vindo a desenvolver ao de 10 anos.
Desde a primeira amostra, com 'Portraits Of Regret', que a subida da montanha tem sido feita a pulso, mas com uma regularidade e qualidade assinaláveis culminando com 'Erosion', lançado há três anos - não contando com o trabalho de remisturas 'The Circle' do ano passado -, um trabalho maior que deixou muita boa gente com a cabeça às voltas, no sentido figurado e literalmente, durante bastante tempo.
Que esperar, então? Um doloroso e sofrido disco? Algo mais «descontraído»? Repetir a dose?
A resposta pode ser ouvida em 'FÆMIN', um novo passo em frente da carreira deste colectivo. Dividido em cinco temas, que se interligam, apesar de não se encontrarem subjacentes a um conceito, como em 'Erosion', comungam harmoniosamente da mistura de elementos pesados, lentos e agressivos com passagens mais calmas, mas igualmente densas, criando uma atmosfera negra, suja e crua; tudo isto condensado em temas um pouco mais curtos do que é seu apanágio, mas que reflectem bem a evolução do trabalho da banda, sabendo disferir os seus golpes nos momentos certos, sem o risco de cair em momentos que soem a filler.
'Empire' abre as hostilidades e num crescendo que vai tomando conta de nós, onde por momentos os Neurosis povoaram os nossos pensamentos, eclode, na parte final, naquele que é um preâmbulo para 'Blinfold'. A esta altura, já estamos à toa, sedentos e deliciados com o rumo das guitarras e ritmos em assomos quase tribais, que sustentam toda a máquina. E aqui está um dos seus pontos de destaque. Regista-se, também, uma maior diversidade vocal, mais visceral, que se vai estendo pelos restantes temas, mostrando-se bem à altura desta muralha sonora, pontificada pelos solos de Nuno David, certeiros no seu timing e sem excessos de virtuosismo ou de necessidade de afirmar o que quer que seja.
Já na segunda metade do álbum, 'Cleanse' deixa-nos respirar um pouco, embalados no excelente trabalho de guitarras e baixo, que nos prepara para o tema-título, derradeiro, aglutinador e espelho da realidade musical discorrida. Imagem da banda, marca de um novo patamar, confirmando os Process Of Guilt, se alguém ainda tivesse algum assomo de dúvida, como uma das propostas mais valiosas que a música extrema portuguesa tem para oferecer.
E é com álbuns destes que se faz história, trilham-se caminhos e afirmam-se pergaminhos. (17.8/20)


Tracklist: 01 - Empire / 02 - Blindfold / 03 - Harvest / 04 - Cleanse / 05 - Fæmin






sábado, 5 de maio de 2012

Ab Reo Dicere: (Echo) + EndName + Mare Infinitum

(Echo) - Devoid Of Illusions (2011)

E é assim. Quando menos se espera, eis que este primeiro longa-duração dos italianos (Echo) explode nas colunas da aparelhagem e deixa-nos de queixo caído e sem capacidade de reacção durante mais de uma hora. Em 'Devoid Of Illusions' há espaço para doom, death melódico, post-rock, space rock e até para umas piscadelas de olho a algum psicadelismo; e não é que tudo isto encaixa? Toda esta amálgama foi gerida de forma magistral, onde as partes mais agressivas são contrabalançadas por melodias que tanto têm de belo como de frágil, onde se saboreiam texturas diversas a cada minuto que passa e um piano; um piano que marca temas como 'Summoning The Crimson Soul' e 'Unforgiven March', com um trabalho simples e discreto, mas de uma beleza quase etérea, arrebatadora, numa palavra só. Por esta altura, os Mourning Beloveth e os Opeth dançam na nossa cabeça, mas com 'The Coldest Land', a paleta de cores e texturas expande-se ainda mais e a marca de Renkse e Nyström parece ganhar uma áurea quase palpável, que também anda de mão dada com as atmosferas dos Anathema - ouça-se 'Omnivoid', resgatada e de cara lavada para este álbum, ou então ‘Once Was A Man’.
Do princípio ao fim é a melodia que impera, onde o aturado e refinado trabalho conjunto de piano e guitarras atinge um elevado requinte de qualidade, sem nunca deixar de emanar aquele poder que nos cativa e, ao mesmo tempo, nos encosta à parede tal a força que detém. As vocalizações alternam entre o growl profundo e a quase declamação, limpa, a espaços quase um sussurro antes de se tornar em mais uma dose de peso cru e feio.
Longe de estar preso a um estilo restrito, 'Devoid Of Illusions' evidencia uma excelente gestão de elementos variados, capazes de ir ao encontro do apreciador de Metal na generalidade e não só de um registo específico. Demonstra uma banda eclética, que joga no risco e daí tira dividendos. E a prova disso mesmo está neste portento de música, no qual Greg Chandler terá, igualmente, a sua quota-parte de responsabilidade, devido ao seu excelente trabalho de produção. E será uma enorme pena passar despercebido. (16.9/20)



EndName - Anthropomachy (2011)

Após um EP e um álbum de estreia pouco mais que medianos, eis que os moscovitas EndName resolvem efectuar um upgrade na sua sonoridade e, desta vez, suportados por uma produção que faz ganhar aqueles pontos que podem fazer um disco sair da mol de lançamentos que por aí pairam, comparativamente ao que podemos constatar nos seus trabalhos anteriores.
Apesar de não levarem grandes desvios no que ao seu som diz respeito, o tal upgrade nota-se, principalmente, no investimento que cada tema teve e, ao mesmo tempo, na necessidade de haver uma ligação ao longo dos oito capítulos que compõem este 'Anthropomachy' e não fosse mais uma colagem de temas mais ou menos desgarrados e com marcas evidentes da necessidade de passarem mais umas horas na garagem a serem trabalhados.
Desde as primeiras batidas de tarola em 'Black Light', que depois explodem naquele riff demolidor que nos vai servindo de guia por incursões que tanto puxam para o sludge meio polido como para o doom que foge para o mid-tempo, que a mudança é bem notória. E, depois, é um desfiar de malhas encaixadas em ritmos duros e fortes até ao esvaimento do tema-título, que encerra a proposta mais coesa e com mais qualidade até à data dos EndName. Aqui, há espaço para crescer e a prova disso mesmo é o grande pulo desde 'Dreams Of A Cyclops'. A distribuição está a cargo da Slow Burn Records, mais um ponto a favor para que mais gente dedique algum tempo a este álbum, que ainda por cima é totalmente instrumental, o que não deixa de ser algo invulgar nestas paragens. (13.8/20)



Mare Infinitum - Sea Of Infinity (2011)

Da torrente de bandas e projectos ligadas às sonoridades mais arrastadas que nos vão chegando regularmente da Rússia, surge agora a estreia destes Mare Infinitum, que mais não são do que a colaboração entre Homer (ex-Who Dies In Siberian Slush) e A. K. iEzor (Abstract Spirit e ex-Comatose Vigil). Não querendo arriscar a designação de super-projecto, o facto é que a junção destas duas entidades criativas e de renome na cena russa não deixa de criar uma expectativa com a fasquia um pouco alta dado o historial que carregam. Mas também muitos são os casos em que a montanha pariu um rato. Em que ponto ficamos, portanto? Certamente, ali bem pelo meio. Se ao tomarmos contacto com 'Sea Of Infinity', não podemos dizer que é uma obra-prima, essencial para qualquer apreciador de doom metal, também não será justo desatar a dar pancada nos moços porque seguem, até um pouco em demasia, se calhar, as linhas com que se regem/regiam nos projectos referidos.
Alicerçado em bases atmosféricas, onde as teclas têm uma enorme preponderância, pautando-se como elemento central destes cinco temas, e onde as guitarras seguem, em grande parte, esse mesmo trilho, não se registando grandes variações ou um trabalho que lhes permita dar uma outra dimensão a este álbum. Aqui, é também frequente a dualidade entre explosões de peso com outras mais calmas e contemplativas, onde a voz ultra-gutural de Homer vai marcando presença, abafando tudo o que está em redor.
Provavelmente, a faixa de abertura, 'In Absence We Dwell', será o melhor exemplo para se tomar pulso a esta proposta e daí perceber quais as linhas com que aqui se cose este doom atmosférico.
Destas latitudes, já ouvimos trabalhos bem mais conseguidos, mas esta banda-sonora cai que nem ginjas numa noite de vento, frio e chuva onde quer que seja. (12.5/20)

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Towards Darkness - Barren (2012)

Que ondas funéreas são estas que nos chegam do Canadá, onde o horror parece ganhar contornos de belo? Pois é, nascidos das cinzas dos The Mass, os Towards Darkness pulsam vida cinco anos após a estreia 'Solemn'. Por essa altura, assistiu-se a uma viragem contundente na sonoridade da banda, renegando o sludge arrastadão e mergulhando nas negras águas do funeral doom, evidenciando um bom conjunto de ideias e deixando-nos com a legítima curiosidade de perceber até onde nos conseguiriam levar num futuro registo. Longa essa espera, mas eis que 'Barren' rompeu a densa neblina e traz-nos quatro temas carregadinhos de peso e belíssimas atmosferas, com as teclas a ganharem um enorme destaque, criando passagens etéreas que desembocam em ritmos lentos e fortes, numa cadência que abraça as guitarras pungentes e o baixo pulsante.
'The Arrival', é o tema ideal para nos ligar a este manancial de peso, carregado de escuridão e aridez, com um início em crescendo até à eclosão de um som esmagador, mostrando-nos que estão bem à vista as diferenças com o passado; ideias concisas, onde tudo surge no devido lugar sem a noção de que está ali para encher.
'Avenues Of Manipulation' demonstra o equilíbrio mais conseguido neste novo álbum, onde a face mais costumeira do funeral doom convive com as toadas atmosféricas, estendendo-se pelo tema seguinte, ''Holy... Dying... Lifting', que ao mesmo tempo funciona como um intermezzo para a derradeira 'Awakening', onde ao longo dos seus 18 minutos nos envolve no seu manto espesso, numa combinação bem curiosa que poderia resultar da junção de uns Explosions In The Sky com uns Neurosis, novamente num longo crescendo, mas que fica sempre ali muito próximo de algo mais, da catarse final.
Longe de estarmos perante algo novo ou refrescante, 'Barren' acaba por demonstrar que há algo para além de Shape Of Despair, Skepticism e toda a trupe que tem chegado de Leste, às vezes com uma qualidade sofrível.
Sim, é para ouvir novamente, sff! (15.4/20)

English:

What are these funereal waves reaching us from Canada, where the horror seems to take the shape of beautiful? Indeed, born from the ashes of The Mass, Towards Darkness beat life five years after the debut 'Solemn'. By that time, there was a striking shift in the sound of the band, denying the dragged sludge and plunging into the dark waters of the funeral doom, showing a good set of ideas and leaving us with legitimate curiosity to see how far they could take in registration in the future. This long wait, but behold, 'Barren' broke through the fog and brings us four themes loaded of weight and beautiful atmosphere with the keys (keyboard) to a very high gain, creating ethereal passages that lead to slow rhythms and strong, a cadence that embraces the poignant guitars and throbbing bass.
'The Arrival', is an ideal track for us to connect with this fountain of weight, full of darkness and dryness, with a start on growing until the eruption of a sound overwhelming, showing us that they are clearly visible to the differences with the past; concise ideas, where everything comes into place without the conception of what is there to fill.
'Avenues Of Manipulation' shows more balance achieved in this new album, where the face of the more customary funeral doom live with the atmospheric tunes, extending the next theme, ’Holy... Dying... Lifting', which simultaneously acts as a linkage for the ultimate 'Awakening', which over its 18 minutes involves us in his black cloak, a very curious combination that could result from a junction of Explosions In The Sky with some Neurosis band, again growing a long, but there is always very close to something else, the final catharsis.
Far from that we are not facing something new or refreshing, 'Barren' turns out to demonstrate that there is something beyond Shape Of Despair, Skepticism, and the entire troupe that has come from the East, sometimes with a average quality.
Yes, it is to hear again, if you please! (15.4/20)

        http://www.lastfm.fr/music/Towards+Darkness